09/09/2014

Com sua licença, o porquinho!


Agora jaz, abandonada, encostada à parede da pocilga onde outrora albergava, com sua licença, o porquinho.
É uma pia igual a tantas outras, não fosse ela portadora de estórias de magrezas e abastanças inigualáveis. Escavada na dureza do granito da serra da vila, ela serviu, viandas sem fim, às porcas parideiras que por ali habitaram, bem como aos lustrosos porcos que serviriam de sustento, durante todo ano, às pessoas lá de casa.
Agora que as viandas se tornam inúteis porque o porco já ali não habita, e as pessoas que lhes davam vida irão continuar ausentes, a pia permanece intacta como que desafiando as agruras do tempo e completamente disponível para outras funções. Quem sabe, um dia, para servir de floreira num qualquer jardim desta aldeia situada, paredes meias, entre as duras rochas graníticas da serra d'Opa, cabeço pelado, serra da vila e os terrenos férteis dos seus vales...castelões, estrada velha, Santo Amaro ...
Enquanto isso não acontecer esta pia, granítica, continuará imóvel como firme sentinela de um tempo com muitas estórias ainda por contar.
 





"A Minha Rua", Joaquim Luís Gouveia



 

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