19/08/2014

O Sagrado e o Profano



Quando hoje falamos de Festa, estamos a falar da festa popular. Durkheim, sobre o fenómeno festivo, afirmava: ”Não pode haver sociedade que não sinta a necessidade de conservar e reafirmar, a intervalos regulares, os sentimentos e ideias colectivas que lhe proporcionam a sua unidade e personalidade”.
A raiz religiosa da Festa é, por outro lado, um facto histórico. E a evolução da Festa é indissociável da evolução religiosa ao longo dos tempos. Se em séculos passados as festas cristãs coincidam com as festas pagãs, fortalecendo a cultura religiosa, hoje o tempo criou novos laços, novas fronteiras. A sociedade de hoje organiza-se muito para além da sua componente religiosa ou litúrgica. É uma nova organização do exercício do poder onde o elemento religioso obviamente continua presente.
Na antiga Roma a procissão começava no Capitólio, atravessava o Fórum e terminava no Circo, onde tinham lugar os jogos, uma arena de entretenimento. Hoje o percurso da procissão é escolhido pelo povo e remonta à tradição e à memória. E é esse povo que transporta os “seus” santos, numa manifestação de fé ancestral. Ninguém tem poder ou capacidade para alterar este facto. E se alguém pensa que tem esse poder, está profundamente enganado. O passado assim nos ensina.
No nosso tempo, o sagrado e o profano estão bem definidos. Não se atropelam, nenhum deles se sobrepõe ao outro, convivem diariamente com ética e, sobretudo, devem fazê-lo com bom senso.

Citando Rousseau: “Plantai no meio de uma praça um poste coroado de flores, juntai aí o povo e tereis uma festa”. Porque é o povo que faz, organiza e vive a “sua” festa.






"Reduto", António José Marques






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