05/07/2013

Vivências

A propósito de um elogio, despertaram em mim tantas recordações!...
Saí da minha terra, do meu ninho, há quarenta e tal anos.
Lembro-me como se fosse hoje.
Vim atrás de um sonho de amor.
Não havia dúvida que era aquilo que eu queria.
Ao mesmo tempo, deixei metade do meu coração lá, no aconchego do meu berço.
Com o coração feliz e ao mesmo tempo ferido.
Ficou colado às paredes, às pessoas, à família e aos locais.
Os momentos de menina, alguns, apenas alguns, muito pesados, também me acompanharam.
Comigo veio a imensa recordação de uma vida feliz.
Vieram comigo os cheiros que ainda hoje guardo.
Mesmo em situações tão complicadas e traumáticas como as que passei lá longe, em Cabinda, na guerra colonial.

Veio comigo a saudade da inocência responsável.
Dos momentos em que, de repente, tive que me fazer mulher.
«Vieram comigo», aqueles que me ajudaram e ensinaram a crescer.
As amigas da minha idade, tantas!...
E também as amigas mais velhas.
As que me protegiam e me tratavam com imensa ternura.
Já casadoiras, chamavam-me para as acompanhar nos passeios e outras formas de lazer.
A Dulcinha, era assim que todos me chamavam, era para elas a menina ainda muito novinha, em quem depositavam confiança.
Aquela que guardava os segredos e que não estorvava os seus devaneios de jovens namoradeiras.
Nunca esquecerei a Zézinha Azevedo, a Maria de Jesus Soares, a Zulmira Fonseca, a Idalina Silva e outras que me acarinharam sempre e me ensinaram utilidades que ainda hoje me são úteis.
Como não hei-de eu falar com ternura das vivências de infância e juventude?
Porque não haveria eu de recordar com carinho, todo o carinho que recebi?
Escrevo assim, talvez porque a minha escrita vem do coração.
Talvez porque escrevo com a alma – assim haja, continue a haver, quem goste de me ler.

Obrigada a todos.
Abraço.

 

 
 
 
Dulce Martins
 
 
 

2 comentários :

  1. Que texto delicioso Dulcinha :-)
    muitos beijinhos
    Filipe Figueiredo Pinto

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  2. Ó Filipe, que surpresa!
    Que bom encontrar-te, ainda que sem te poder dar um abraço ao vivo.
    Obrigada, grandalhão.
    O que é feito de ti, amigo e familiar de longa data?
    Que bom que aprecies estas coisas tão vulgares da minha pacata vida.
    Sensibilidades!...

    Beijinho grande.

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